domingo, 27 de janeiro de 2013

O sucesso e o naufrágio

Após período de ocaso, rede social tenta recuperar sua relevância para o universo musical
Nas sábias palavras da AC/DC, "it´s a long way to the top, if you wanna rock´n´roll" (algo como "é um longo caminho até o topo, se você quer fazer rock"). E parte dessa jornada, claro, passa pela divulgação do seu trabalho. De pouco adianta tocar como um deus do rock (ou do pop, do jazz, do samba, etc), gravar ótimas canções se ninguém vai ouvi-las.

Arctic Monkeys: banda inglesa foi uma das revelações da chamada "geração MySpace"

Com o desenvolvimento e a relativa popularização da tecnologia 3G (que permite conexão em dispositivos móveis), a internet deixou de ser complemento para se tornar ferramenta principal na estratégia de promoção de bandas e artistas- pelo menos dos independentes, fora do circuito mainstream.

Seja pelo download de arquivos, seja por streaming (desde que a conexão dê conta), fato é que, hoje, para boa parte do público consumidor, a experiência de ouvir música está inextricavelmente ligada à internet. O que explica o surgimento, ao longo dos últimos anos, de inúmeras redes sociais especializadas nesta arte, caso de SoundCloud, Last.fm e Grooveshark - apenas três exemplos fáceis de lembrar, dentre os vários hoje existentes.

Até poucos anos, porém, apenas uma reinava nesse ainda incipiente mercado. Praticamente sinônimo de rede social de música em meados da década passada, o MySpace foi fundado em 2003. Sem necessidade de conhecimentos de programação, adolescentes podiam interagir fora das ocasiões presenciais, talvez fazer novos amigos, postar fotos e, claro, compartilhar música.

Em 2006, após ser adquirido pela NewsCorp (do magnata das comunicações Rupert Murdoch) por US$ 580 milhões, o MySpace já reunia 100 milhões de usuários. Até o início de 2008, era a rede social mais popular entre os norte-americanos. A ligação com a música foi um dos aspectos fundamentais da trajetória do MySpace - seja pelo próprio potencial agregador e socializador dessa última ou pelas funcionalidades nele disponibilizadas para formatos de áudio.

Fato é que, de tão acertada, a combinação rendeu uma espécie de subseção do site, o MySpace Music, criada em 2004, na qual artistas e bandas podiam não apenas colocar seus perfis e interagir com o público, mas disponibilizar suas músicas em formato MP3. O serviço chegou a revelar artistas hoje consagrados - a banda Arctic Monkeys e a cantora Lily Allen, no Reino Unido; e a cantora Mallu Magalhães, no Brasil.

Havia ainda a vantagem de ganhar um domínio próprio na rede (sem precisar de convite para se cadastrar). Outras ferramentas e mudanças foram adicionadas ou implementadas ao longo dos anos seguintes - como a possibilidade de criar playlists.

Daí em diante, porém, algo deu errado. Com a crescente popularização do Facebook e do Twitter, o MySpace passou a perder milhões de usuários. Os motivos apontados por especialistas variam desde a inabilidade ou demora de seus gestores em aprimorar ou desenvolver novas ferramentas (a exemplo de mensagens instantâneas e de programas para importar contatos da conta de e-mail); a interface poluída (após sucessivas mudanças no layout, que deixavam o internauta confuso); a falta de controle para anúncios (que terminaram inundando o site); a ausência de uma política severa para separar pessoas de empresas entre seus usuários (o que dá margem para spam e outras práticas abusivas); o excesso de "poder" concedido aos usuários para personalizar páginas e funções, entre outras complicações.

Em meados de 2010, a NewsCorp chegou a anunciar uma mudança de foco para o MySpace, que, em vez de uma plataforma voltada exclusivamente à interação social passaria a site dedicado ao entretenimento. A estratégia, porém, não foi bem sucedida e, em junho de 2011 a News Corp vendeu o MySpace para a Specific Media por "míseros" US$ 35 milhões.

A grande surpresa foi a participação do cantor e ator norte-americano Justin Timberlake, que investiu dinheiro e se envolveu diretamente na elaboração da nova versão do site, ajudando também a promovê-la.

Segundo divulgaram os novos proprietários, em setembro do ano passado, o foco do agora Myspace (com "S" minúsculo) volta a ser a música, mas com novas funcionalidades, novo visual e integração com Facebook e Twitter, o que deixa claro o objetivo de reposicionamento do produto no mercado.

Neste mês o novo Myspace foi aberto ao público (sem necessidade de convite para fazer uma conta). O visual baseia-se em posts curtos e uso intenso de fotos e vídeos, e lembra a timeline do Facebook com toques de Tumblr e do Pinterest (rede social voltada para imagens, que permite ao usuário organizar seus itens em grandes murais).

Pioneiro no Brasil, Trama Virtual perdeu força
No Brasil, o Trama Virtual teve um destino semelhante ao do Myspace. O site foi lançado em 2004, pela gravadora Trama, do produtor João Marcello Bôscoli em sociedade com os irmãos André e Cláudio Szajman.

Apesar de já ter nascido com foco em um nicho específico - a divulgação de artistas independentes -, o Trama Virtual também perdeu força frente à competição de outras redes sociais que também ofereciam compartilhamento de música (como o Sonora, do portal Terra, lançado em 2006, e o MySpace Brasil, que chegou ao País em 2007).

Embora ainda seja utilizado por artistas, basta navegar pelo portal para perceber que anda desatualizado.

Ainda assim, o projeto destacou-se pelo pioneirismo de seu formato (que inclui um interessante sistema de download gratuito para o público, mas remunerado para os artistas, por meio de patrocínios) e por ter revelado bandas hoje famosas, como o Cansei de Ser Sexy/ CSS.

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